Essa semana duas notícias me chocaram. E não estou falando nem de espionagem na internet, nem de reabertura do julgamento do mensalão (se bem que isso também me revoltou. Mas como esses absurdos não têm a ver com prazeres – nem grandes, nem pequenos, vou deixar passar por aqui). Estou falando das pessoas que, em plena selva paulistana, se atrevem a reclamar do canto de passarinhos (independente da hora do dia ou da madrugada) e de comerciantes do Mercadão que cobram até R$ 129 pelo quilo da amora.

Sim, amora. Nada de cereja, mirtilo ou qualquer outra fruta importada. Amora. Daquelas que passei a infância inteira comendo no quintal da minha avó, com direito a sola de pé, roupa, boca e pontas dos dedos manchadas quando a produção de uma única árvore era tanta que rendia o suficiente para comer até dar dor de barriga, virar suco e geleia.
Não tem nota de cem reais ou dólar que pague o prazer de comer a fruta no pé, se lambuzando com sua doçura e sentindo o cheiro de seu frescor. Quem já teve um pé de jabuticaba para chamar de seu sabe muito bem do que estou falando. E da tristeza que dá ao ver aquelas bolinhas pretas amontoadas nas bacias das barracas de feira. Murchinhas, sem brilho, queeeentes.

Não tem desejo de grávida que faça a jabuticaba comprada na cidade ter o mesmo sabor daquela comida empoleirada na árvore. Da mesma forma que não tem nada que anime mais do que ouvir o sabiá, a maritaca ou qualquer outro passarinho cantar próximo à janela do seu apartamento, lembrando que ainda pode haver vida no meio do concreto duro.
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